::Verde em clownQuando comecei fazer trabalho voluntário, foi porque eu queria ser uma menina boazinha. Eu achava que precisava ter um papel social no mundo. Daquelas meninas bem bestas mesmo que acham que podem salvar o mundo. Depois de um tempo, percebi que de boazinha eu não tinha tanto assim. O trabalho que eu fazia, me gratificava mais do que gratificava outra pessoa. Mas ainda assim era bonitinho. Hoje eu me acho má. Vou ao hospital brincar com crianças em dias que eu não estou muito bem. Não fisicamente mal, porque aí também eu seria uma potencial assassina, mas dias que meus problemas parecem ser maiores que qualquer crise política. Vou lá pra elas me ajudarem, porque lá eles vão me obrigar a cair na gandaia, eles te obrigam a sorrir, porque você foi ali pra isso, e se não brincar de vivo ou morto com eles, pode ir embora que você não serve pra nada. Ir lá, me obriga a achar uma resposta para qual que seja o problema que está na minha cabeça. Egoísmo. Tem gente que paga terapia, eu não.
Talvez não seja tão má assim. As vezes eu penso neles, em como fazer eles sorrirem podem ajudar no tratamento. E eu sei mesmo que ajuda, é comprovado, já vi isso de perto. Sei que a brincadeira não está ali pra que ele esqueça que daqui a meia hora o médico vai chamar, e vai dar um remédio pra ele que tem cheiro de peido e gosto de jaca podre. A palavra é convívio. A brincadeira serve pra ele saiba a existência do problema, mas consiga levar aquilo a diante, sem que seja tão doloroso.
Não sou palhaça, não sou looser o suficiente pra conseguir isso. Talvez a única coisa que eu tenha do palhaço seja a busca de me divertir com pequenas coisas. Acho que isso eu aprendi, a saber encontrar razões pra rir, mesmo quando tudo parece pedir o contrário. Talvez rir da desgraça seja tão importante quanto chorar dela.
Gostaria que as pessoas assistissem ao filme dos
doutores da alegria. É feliz, sensível, humano e extremamente engraçado. Não tem nada a ver com o que eu faço, é outra coisa. É além.